Pular para o conteúdo

Mudei-me para Minnesota por causa de um homem. E deixei meu marido em Detroit (temporariamente). Pode parecer que fui contra a minha moral e os meus princípios feministas – mas não o fiz.

“Mudei-me para cá porque George Floyd, o homem, simbolizava o movimento.”—TONYA ALLEN, PRESIDENTE

O movimento pelas vidas dos negros, recatalisado pelo assassinato de Floyd e pelos ativistas de Minneapolis, resultou em milhões de multirraciais, a maioria jovens, protestando nas ruas em mais de 2.000 cidades em 60 países durante meses. Eles eram implacáveis e corajosos. Eles nos fizeram notar, nos deixaram desconfortáveis e nos fizeram mudar. Eles me fizeram – como tantos outros em todo o país – pensar: “Como posso fazer mais?” e “Como posso ter certeza de que essa mudança de horário será durável?” A busca pelas respostas para essas perguntas me tirou — figurativa e literalmente — da minha vida confortável, mas significativa, em Detroit. A interrupção divina me colocou aqui em uma nova cidade, um novo emprego, um novo lar e uma nova missão.

A missão da Fundação McKnight – promover um futuro mais justo, criativo e abundante onde as pessoas e o planeta prosperem – só pode ser cumprida se centrarmos a equidade racial e implementarmos práticas, políticas e sistemas que sejam reparadores. Tais políticas teriam permitido que os sonhos de George Floyd fossem realizados, em vez de serem sufocados nas duras calçadas da 38th St.

Como muitos de vocês, já fui muitas vezes àquele cruzamento, agora chamado de George Floyd Square. Prestei minha homenagem, estive na comunidade e lembrei-me da bravura da cinegrafista Darnella Frazier, de 17 anos. Pode surpreender alguns que eu saiba o nome dela, mas nunca tenha assistido ao vídeo dela. Não precisei ver a filmagem dela para saber o que aconteceu. Infelizmente, já vi imagens suficientes e ouvi histórias suficientes de pessoas negras mortas pela polícia febril ou como resultado da violência contínua ou do racismo inflexível nas nossas comunidades. Não precisei ver o vídeo de George Floyd para que ele me assombrasse.

Como mulher negra, descobri que o conhecimento da brutalidade da morte de George Floyd – e não o visual – foi suficiente para me comover por si só, mas a minha transição foi muito mais. Minha resposta foi sobre os numerosos nomes que recitamos – Breonna, Ahmaud, Duante, Sandra, Philando e Trayvon – ao chamado para “dizer o nome dele ou dela”. Era sobre os homens da minha família e dos meus amigos que contam, às vezes décadas depois, com lágrimas nos olhos, a humilhação e o trauma de serem parados e agredidos por policiais excessivamente zelosos. É sobre as crianças inocentes baleadas em Minneapolis – Ladavionne, Trinity e Aniya – e é sobre os perpetradores que expressam violentamente a sua dor, resultante da falta de oportunidades, estabilidade e empregos. É sobre o número desproporcionalmente elevado de homens e mulheres negros mortos que prova que este país tem uma hierarquia de valores humanos. Essa dor presa no meu DNA – transmitida através de gerações de famílias negras – é crua e pesada porque nunca levamos em conta o racismo enraizado que exige que alguns de nós carreguemos o fardo dos pecados graves do nosso país.

Quer você tenha assistido ao vídeo de George Floyd ou não, quero que isso o assombre também. Quero que isso continue a movê-lo de alguma forma – se não para uma nova cidade ou vila, pelo menos para sua própria comunidade. Seja movido por suas convicções. Seja implacável em suas ações.

“Nenhum de nós pode dar-se ao luxo de permanecer confortável – nenhum de nós – porque a nossa humanidade e a nossa democracia estão em jogo.”—TONYA ALLEN, PRESIDENTE

Aqueles de nós que têm poder e privilégios deveriam fazer o máximo. Se você tiver poder, reescreva as regras onde e quando puder. Lembro-me da escritura bíblica “a quem muito é dado, muito será exigido”.

Há um longo caminho para a justiça diante de nós. Exige que sejamos implacáveis, corajosos e incomodados, não apenas no aniversário da morte de Floyd, mas todos os dias.

Temos de nos fortalecer contra retrocessos no progresso que o nosso país tem historicamente apoiado. A história mostra-nos que após cada sete anos ou mais de progresso na questão racial, o nosso país retrocede. Prejudicamos os mais vulneráveis e eles enfrentam os maiores reveses. Não podemos fazer isso de novo. Hoje e todos os dias devemos lutar pelo amanhã, para que possamos continuar avançando, curando e lutando para avançar em direção a uma América justa.

A black and white photograph that shows five young black men smiling and laughing

Fotografia por Justin W. Milhouse

Em meu novo escritório McKnight, tenho um retrato de meninos negros rindo e cheios de alegria. Adoro esta foto porque é um lembrete constante de que os meninos negros – como todas as outras pessoas – também merecem uma infância. Quero que eles experimentem crescer sem ficar em guarda com os adultos e com os policiais de seus bairros. Quero que eles tenham a liberdade de experimentar a vida sem terem que se proteger do mundo. É isso que desejo a todos os mineiros. Isso é o que George e Philando e Jamal e Daunte mereciam. E é isso que nos deve motivar a mudar os sistemas que já não funcionam e a erradicar aqueles que nunca funcionaram.

Com os apoios e sistemas adequados implementados, podemos criar comunidades que elevam a todos. Mudei-me para Minnesota porque acredito que esta mudança pode acontecer primeiro aqui. A Fundação McKnight também acredita nisso. Espero que você também se emocione para fazer isso acontecer.

Este ensaio é o primeiro de uma série de reflexões em primeira pessoa nossos colegas estão compartilhando sobre George Floyd e o movimento pela justiça racial.

Português do Brasil